6/01/2009

O bode expiatório começa a nascer

A máquina de comunicação do Governo já está a arrepiar caminho. Temendo que este Verão não seja tão verdejante em matéria de incêndios florestais, já anda a fazer passar para a comunicação social um eventual bode expiatório: as eleições.

Hoje, numa notícia no Correio da Manhã - que, aliás, mostra que a desorganização de competências ainda campeia nos teatros de operações - apresentam-se algumas curiosas estatíticas. Diz-se que «entre 1980 e 2007 realizaram-se sete eleições autárquicas. E o número de fogos aumentou nesses períodos 6,68 por cento face à média de anos sem escrutínios. Em ano de Legislativas, verificou-se mais 16,8 % de área devastada. Perante estes dados, até o secretário de Estado das Florestas, Ascenso Simões, já admitiu: 'Vamos ter um Verão difícil' em matéria de incêndios florestais».

Ora, sem colocar aqui em causa o jornalista que escreveu esta notícia, a minha experiência induz-me a afirmar, com baixa probabilidade de erro, que quem fez estas contas foi o próprio Governo, que as transmitiu depois ao jornalista. Como quem diz: olhem, se as coisas correrem mal, a culpa é das eleições, a culpa dos incêndios é daqueles que estão contra o Governo. Aliás, pela análise que fiz e escrevi no livro Portugal: O Vermelho e o Negro, em 2006, é que sempre que os incêndios de Verão sucedem em épocas de eleições, surgem os governantes a fazerem incendiários brotarem que nem cogumelos.

Já agora, convém referir que os dois piores anos de incêndios - 2003, com cerca de 420 mil hectares, e 2005, com 350 mil hectares - não foram anos de eleições.

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